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11/06/2025
Morte súbita em atletas: tragédia que pode ser evitada
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A morte súbita de atletas durante atividades físicas sempre choca, ainda mais quando envolve jovens, como o caso ocorrido na maratona de sábado, 7 de junho, em Porto Alegre. Como cardiologista, sinto a responsabilidade de trazer um alerta que pode salvar vidas: essa tragédia, na maioria das vezes, é evitável.
Independentemente da idade, qualquer pessoa que deseja iniciar ou intensificar a prática de exercícios físicos deve passar por uma avaliação cardiológica. Isso é ainda mais importante em homens acima de 40 anos e mulheres após a menopausa, especialmente se houver fatores de risco como tabagismo, hipertensão, diabetes, colesterol elevado ou histórico familiar de infarto ou morte súbita. Mesmo com apenas um desses fatores, o risco já aumenta significativamente.
Nos mais jovens, a principal causa de morte súbita costuma ser alguma doença cardíaca congênita ou miocardiopatia não diagnosticada. Felizmente, a maioria dessas condições pode ser identificada, precocemente, em uma consulta com o cardiologista.
Durante a avaliação, investigamos sintomas como dor no peito, cansaço excessivo, falta de ar, palpitações, desmaios ou histórico familiar de morte súbita. O exame físico pode revelar sopros cardíacos, e o eletrocardiograma pode indicar arritmias, alterações na condução elétrica do coração ou aumento do músculo cardíaco.
Se necessário, solicitamos exames como Holter (para monitorar arritmias por 24 horas), ecocardiograma (para avaliar válvulas e músculos cardíacos), ou até mesmo uma ressonância magnética cardíaca. Em casos específicos, um estudo eletrofisiológico pode ser indicado.
É fundamental lembrar que o exercício físico não deve ser liberado enquanto houver suspeita de doença cardíaca sem diagnóstico conclusivo. E mesmo os atletas sem sintomas devem realizar eletrocardiogramas de repouso e de esforço para avaliar a resposta do coração durante a atividade.
Outro ponto importante: o uso de drogas como cocaína ou o abuso de estimulantes pode desencadear arritmias graves. Além disso, praticar exercícios durante uma virose também aumenta o risco de miocardite e complicações cardíacas.
Por isso, na minha opinião, todas as assessorias, promotores de eventos e academias deveriam pedir, obrigatoriamente, avaliação cardiológica sistemática para seus atletas. Talvez perdessem alguns clientes, mas não seriam perdidas algumas vidas.
Por Dr. João Carlos Guaragna
Coordenador do Serviço de Cardiologia do Hospital Divina e professor da escola de medicina da PUCRS
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