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22/12/2022
Atenção Primária à Saúde forma especialistas em saúde da população negra
Seis profissionais que atuam nas Unidades de Saúde gerenciadas pelo Hospital Divina em Porto Alegre participaram do curso
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Numa iniciativa da Secretaria Municipal da Saúde e com apoio do Ministério Público e do Instituto Federal do RS, profissionais de saúde das redes de Atenção Primária à Saúde (APS) de Porto Alegre têm a oportunidade de aprimorar os atendimentos de saúde à população negra por meio do curso "Promotores da Saúde da População Negra". A iniciativa, que completou 10 anos de atividades na Capital, já formou mais de 600 profissionais de saúde.
Na última sexta-feira (16), seis profissionais da Atenção Primária à Saúde que atuam nas unidades gerenciadas pelo Hospital Divina concluíram o curso, realizado de setembro a dezembro, e que teve quatro módulos e carga horária de 96 horas/aula.
A qualificação tem o objetivo de fortalecer a implementação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra na Capital. Aborda desde o contexto histórico do racismo, até o impacto em determinantes sociais, agravos à saúde, além de vulnerabilidades e práticas discriminatórias.
Participaram do curso a auxiliar de Saúde Bucal Dayse Bersagui de Oliveira, a médica Caroline Teles Andrades Pereira, as técnicas em Enfermagem, Brenda Laís Albino Lemos, Andréa da Silveira Pereira, Tassia da Silva Machado e Mirian de Abreu Barboza e a enfermeira Luíza Pereira Furtado.
A supervisora operacional da APS da Rede de Saúde da Divina Providência, Luana Machado Silveira, saúda a participação das profissionais e a relevância do curso. “Nós, como instituições parceiras da Prefeitura, fazemos questão que os nossos colaboradores possam participar. Muitas pessoas negras têm dificuldade de acesso à saúde, e o curso serve para mostrar que há questões bem específicas da população negra e que precisamos aprimorar os nossos acessos de saúde”, avalia.
A supervisora frisa a oportunidade proporcionada pelo curso de aprofundar o debate sobre racismo institucional e a relação com os atendimentos pelo sistema de saúde. “Poder falar sobre isso abertamente é muito importante. Há muitas questões específicas que precisam ser debatidas, como o acesso à saúde, os índices de mortalidade infantil violência, maiores na população negra. A partir disso, o sistema de saúde precisa ampliar o olhar para essa população”, reflete.
A importância do curso
A auxiliar de saúde bucal Dayse Bersagui de Oliveira atua na Unidade de Saúde Nossa Senhora de Belém há cinco anos. Para ampliar os seus conhecimentos, está cursando Enfermagem. Compreender a temática do atendimento de saúde à população negra é um grande interesse da profissional, que desde 2019 já estava de olho na oportunidade. Neste ano, concretizou o objetivo e, agora formada, avalia o significado da iniciativa.
“É um curso que agrega muito conhecimento. Aborda tanto as questões históricas da população negra na nossa sociedade como também as questões atuais específicas do atendimento à população negra”, aponta.
Aprimorar a identificação nos atendimentos
A auxiliar de Saúde Bucal aponta que a autodeclaração é um dos grandes desafios para os profissionais, que devem estar preparados para auxiliar a população negra a não ter medo de fazerem a correta identificação. “Escutamos relatos tristes no curso, de pessoas negras que dizem ‘temos medo de falar pois não sabemos se seremos penalizados’. Então, é preciso aprimorar o atendimento a essa população, para melhor acolhimento e identificação”, afirma.
”Durante o curso, fizemos um levantamento com a Dra Caroline, em que identificamos uma equipe bem vulnerável que tinha prevalência de pessoas negras, mas que apresentou na identificação 2,8 mil pessoas cadastradas como brancas e pouco mais de 400 como pretos ou pardos. Ao observar isso, falamos para a equipe que esse tipo de levantamento está errado, pois perguntamos aos pacientes. Uma das ideias do curso é que, enquanto promotor da saúde, possamos enxergar esses determinantes da saúde para melhorar o atendimento”, avalia.
A médica Caroline Teles Andrades Pereira veio de Minas Gerais para o Rio Grande do Sul em 2020 e, desde então, atua na US Nossa Senhora de Belém. A médica também destaca a importância do curso em fomentar os profissionais da saúde identificarem, corretamente, os pacientes negros nas fichas de notificação.
Casos específicos e luta contra os preconceitos
A médica também pontua que o curso é fundamental para os profissionais desenvolverem o olhar atento às especificidades da população negra, como entender se o paciente sofreu algum tipo de preconceito e como prestar o devido apoio nesses casos.
Além disso, a Dra Caroline aponta como exemplo de aprendizado os fluxos e manejos específicos de casos de grande incidência na população negra, como é o caso da anemia falciforme. “O curso trouxe conhecimentos de como trazer esses casos para a Atenção Primária do que ficar apenas na secundária, pois acabamos não conhecendo e tendo contato com esses casos”, salienta.
Maior engajamento
Daisy, Caroline e Luana têm um consenso: o curso, há 10 anos disponível para profissionais de saúde de Porto Alegre, é fundamental e tem aprimorado o embasamento dos participantes para atender a população negra, mas é importante que haja cada vez mais engajamento de profissionais em participar da formação, fazendo assim com que o sistema de saúde esteja cada vez mais preparado para essa demanda.
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