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21/12/2018
Atenção redobrada pode evitar episódios de suicídio no final de ano
Confira as dicas para reconhecer e lidar com o problema
Texto: Luciene Machado
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A época de final de ano é mobilizadora para os sentimentos. Embora seja um momento de confraternização, tanto em empresas, em escolas, quanto na família, para muitos é quando a desesperança e tristeza se acentuam.
De acordo com psiquiatra Rafael Moreno Ferro de Araújo, do Hospital São José (HSJ), o número de tentativas de suicídios quase duplica em dezembro e no início de janeiro, com relação aos outros meses. “Temos um aumento nos atendimento por crises suicidas neste período. É importante a família estar atenta, especialmente àqueles que possuem história de algum transtorno psiquiátrico ao longo da vida, uso de medicações psiquiátricas ou tentativas de suicídio prévias”, afirma o médico do HSJ, que faz parte da Rede de Saúde Divina Providência.
O membro do Comitê de Prevenção do Suicídio da Associação de Psiquiatria do RS, completa: “Nossa experiência mostra que as pessoas fazem um balanço, analisam que metas não conseguiram bater e se cobram por isso. Também as relações familiares são intensificadas, em função das festas e maior contato. Há ainda um sentimento de não enquadramento na publicidade do Natal, com famílias perfeitas celebrando. Somado, tudo isto pode fazer com que a pessoa se sinta culpada, desamparada e sem esperança, e esta mistura pode resultar e, pensamentos suicidas”, lembra o médico, que é coordenador de uma linha de pesquisa da Universidade do Vale do Taquari - Univates.
O uso de álcool nas celebrações é outro agravante para estes pacientes. Como lembra o médico, muitas crises são precedidas de abuso de álcool. Funciona como um desinibidor, porque a pessoa perde o freio do comportamento, tornando-se, muitas vezes, agressiva. “Isto é agravado pelo tempo que o álcool demora para sair do corpo, que não são horas e, sim, dias. Os sintomas depressivos voltam ou aumentam quando a pessoa já não está ingerindo bebida alcoólica. Todo o cuidado da família é pouco nestas horas”, alerta o psiquiatra.
Ele lembra que como a região dos Vales, onde o Hospital São José está situado, na cidade de Arroio do Meio, registra um dos maiores índices de suicídio do Brasil (ou até do mundo), o serviço de Psiquiatria virou referência em prevenção do suicídio. “Por exemplo, Porto Alegre apresenta uma baixa taxa relativa de suicídios, quatro vezes menor do que a da nossa região. “lembra. O predomínio de uma população rural, a baixa densidade populacional fazendo com as pessoas morem muito afastadas das outras, a exposição aos agrotóxicos e o estigma pela busca de ajuda por um atendimento com profissional de saúde mental são alguns dos possíveis motivos para estes elevados índices da região do Vale do Taquari e do Rio Pardo.
Confira dicas do psiquiatra Rafael Moreno Ferro de Araújo, do Hospital São José
Para familiares de pessoas com depressão
- A família inteira deve estar atenta ao comportamento de familiares, especialmente àqueles que inspiram cuidados, como idosos e pacientes psiquiátricos. Observe se há maior reclusão, excitação excessiva para participar das festas ou outras alterações do humor.
- Procure ouvir, sem julgar e sem aconselhar. A pessoa precisa sentir-se acolhida.
- Falar sobre suicídio não dá ideia, abre uma janela de oportunidades para a pessoa pedir ajuda
Para todos
- Releve os ânimos exaltados de alguns familiares nas festas. Lembre que todo ano ocorre a mesma coisa.
- Procure não tomar decisões sérias entre Natal e Ano Novo. Você estará mais sensível.
- Não exagere na bebida. O outro dia virá e ele pode ser a continuação de bons momentos.
- Não seja rigoroso ou exigente demais consigo mesmo se não conseguiu cumprir o que planejou.
- Agende exames de saúde nesta época. Desenvolver atitudes de autocuidado promovem bem estar.
Credenciais da fonte:
O médico psiquiatra Rafael Moreno Ferro de Araújo atua no Hospital do Hospital São José (HSJ), Rede de Saúde do Hospital Divina Providência. Foi o primeiro coordenador do Comitê de prevenção do suicídio da Associação de Psiquiatria do RS e atualmente é um dos membros. Possui Doutorado em Medicina e professor do Curso de Medicina da Univates.
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